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Nossa Senhora de Fátima e as Profecias

  • Foto do escritor: Suzana Sás
    Suzana Sás
  • 9 de jun. de 2021
  • 6 min de leitura

Atualizado: 21 de nov. de 2024

Aparição de Nossa Senhora de Fátima aos três pastorinhos.
Nossa Senhora de Fátima. Foto: Nossa Sagrada Família

No dia 13 de Julho de 1917, os três pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta viram Nossa Senhora pela terceira vez em Fátima. Nessa altura ela revelou-lhes o que viria a ser conhecido como Profecias de Fátima.

O segredo é composto por três partes distintas, o que levou à ideia generalizada de que se tratava de três segredos, sobretudo porque a terceira parte ficou muitos anos por revelar e tornou-se conhecido precisamente como o terceiro segredo de Fátima.


1.ª PARTE: A VISÃO DO INFERNO

As três crianças viram “um grande mar de fogo que parecia estar debaixo da terra. Mergulhados neste fogo os demônios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras ou bronzeadas com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que delas mesmas saíam, juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das faúlhas em grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizavam e faziam estremecer de pavor. Os demónios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros.

Anos mais tarde, um grupo dedicado à mensagem de Fátima, encomendou a Salvador Dalí uma representação artística da visão do inferno. O artista aceitou a encomenda e, no processo da pintura, acabaria por regressar à prática do catolicismo.


Importa dizer que a Igreja reconhece a existência de visões sobrenaturais, mas diz que estas devem sempre ser interpretadas pelo contexto social e pessoal dos videntes. Assim, o Catecismo da Igreja Católica reconhece a existência real do inferno: “Morrer em pecado mortal sem arrependimento e sem dar acolhimento ao amor misericordioso de Deus, significa permanecer separado d'Ele para sempre, por nossa própria livre escolha. E é este estado de auto exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados, que se designa pela palavra ‘Inferno’”. A visão que os pastorinhos tiveram não significa que no inferno existam literalmente chamas, pois essa pode ter sido apenas a forma como eles, enquanto crianças, compreendiam o conceito. Assim, a Igreja sempre reconheceu nessa visão, mais do que uma imagem literal, um sério aviso para a conversão e o arrependimento.


2.ª PARTE: DEVOÇÃO AO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA E CONVERSÃO DA RÚSSIA

Depois de ter mostrado o inferno e a sorte sofrida pelas almas que lá vão parar, Nossa Senhora disse-lhes qual o remédio para salvar as almas de se perderem.

Deus quer estabelecer no mundo a devoção a meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior.”


Esta parte do segundo segredo tem sido alvo de alguma polémica e os céticos sublinham que ela só foi revelada nas Memórias da irmã Lúcia, publicadas já na década de 40, depois do início da II Guerra Mundial. Também não é claro se Nossa Senhora teria mencionado explicitamente Pio XI – o que na prática significaria profetizar o nome escolhido por esse Papa, eleito apenas em 1922, cinco anos depois das aparições.


Há ainda o fato de a data comumente indicada como o começo da II Guerra Mundial, 1 de Setembro de 1939 com a invasão da Polónia por parte da Alemanha, ter ocorrido já no reinado de Pio XII, que foi eleito precisamente em 1939. Contudo, essa data diz respeito apenas ao começo da guerra na Europa e não tem em conta a anexação da Áustria, por exemplo, que se deu em 1938 ainda no reinado de Pio XI, nem a guerra entre o Japão e a China, que começou em 1937 e também fez parte da Segunda Guerra Mundial.


A revelação de Nossa Senhora continuou: “Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo pelos seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre.” Lúcia interpretou este sinal como sendo a Aurora Boreal que foi vista em muitos pontos do mundo, em Janeiro de 1938, causando pânico entre as populações.

Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a Comunhão Reparadora nos Primeiros Sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas, por fim o meu Imaculado Coração triunfará.”


Numa explicação teológica dos segredos de Fátima, publicada pelo Vaticano depois de ter sido revelada a terceira parte do segredo, o então cardeal Joseph Ratzinger referiu-se à noção de “Imaculado coração”, admitindo que isto poderia soar estranhamente sobretudo a pessoas de mentalidade não latina. “O termo ‘coração’, na linguagem da Bíblia, significa o centro da existência humana, uma confluência da razão, vontade, temperamento e sensibilidade, onde a pessoa encontra a sua unidade e orientação interior. O ‘coração imaculado’ é, segundo o evangelho de Mateus, um coração que a partir de Deus chegou a uma perfeita unidade interior e, consequentemente, ‘vê a Deus’. Portanto, ‘devoção’ ao Imaculado Coração de Maria é aproximar-se desta atitude do coração, na qual o “fiat” – ‘seja feita a vossa vontade’ – se torna o centro conformador de toda a existência.”


A referência à Rússia diz respeito, naturalmente ao regime comunista que seria implantado alguns meses depois da revelação, mas no final desta segunda parte do segredo, Maria apresentava uma solução: “O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz.”

A consagração da Rússia levaria, porém, muitos anos a ser concluída. Sucessivos Papas fizeram algo aproximado, mas a irmã Lúcia foi-lhes dizendo que os seus gestos não correspondiam aos desejos de Nossa Senhora, ora porque não referiam a Rússia pelo nome, ora porque não tinham sido feitos em união com todos os bispos do mundo.

Quando finalmente João Paulo II o fez de forma satisfatória em 1984, os efeitos, segundo os devotos de Fátima, foram quase imediatos. A consagração foi feita em 25 de Março e menos de dois meses depois, um acidente, numa base naval na Rússia, destruiu dois terços dos mísseis da Frota do Norte da União Soviética, incapacitando-a num momento em que Moscou se preparava para atacar a Europa Ocidental, por aceitar a presença de um sistema de defesa americano. O acidente de Severomorsk aconteceu precisamente no dia 13 de Maio. No espaço de um ano foi eleito Gorbatchev, que iniciou a reforma do regime comunista, levando à rápida dissolução de todo o bloco soviético.


3.ª PARTE: O BISPO VESTIDO DE BRANCO

Poucas coisas motivaram mais teorias da conspiração à volta da Igreja do que a terceira parte do segredo de Fátima, ou o “terceiro segredo”, como ficou conhecido.

A terceira parte da visão foi mantida em segredo, conhecido apenas pelo bispo de Leiria-Fátima e o Papa, até o ano 2000, momento em que João Paulo II a mandou revelar.

Esta parte da visão é descrita da seguinte forma por Lúcia: “E vimos numa luz imensa, que é Deus, algo semelhante a como as pessoas se veem no espelho, quando diante passa um bispo vestido de branco. Tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre. Vimos vários outros bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas subirem uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande cruz, de tronco tosco, como se fosse casca de sobreiro. O Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade, em meio a ruínas e meio trémulo, com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena. Ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho.


E continua: “Chegando ao cimo do monte, prostrado, de joelhos, aos pés da cruz, foi morto por um grupo de soldados que lhe disparavam vários tiros e setas e assim mesmo foram morrendo uns após os outros, os bispos, os sacerdotes, religiosos, religiosas e várias pessoas seculares. Cavalheiros e senhoras de várias classes e posições. Sob os dois braços da cruz, estavam dois anjos. Cada um com um regador de cristal nas mãos recolhendo neles o sangue dos mártires e com eles irrigando as almas que se aproximavam de Deus.

João Paulo II identificou este “bispo vestido de branco” como sendo ele próprio, e os tiros como o atentado que sofreu em 1981, precisamente no dia 13 de Maio. Nessa altura considerou que foi salvo da morte por intervenção de Nossa Senhora, dizendo mesmo que “uma mão disparou a arma, outra guiou a bala”.

O segredo foi lido, sem que isso tivesse sido previamente anunciado, no final da missa de beatificação de Francisco e Jacinta no ano 2000, em Fátima, presidida pelo Papa João Paulo II.

Para muitos o assunto foi dado como encerrado, mas em 2017, na oração que preparou para ser rezada na capelinha das aparições, Francisco surpreendeu ao descrever-se a si mesmo como um “bispo vestido de branco”, parecendo com isso dizer que a mensagem de Fátima, mais do que estar ligada diretamente a um Papa, está ligado ao papado em si e que mantém toda a sua relevância nos dias atuais.


Fonte: Rádio Renascença



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